E é
o universo a nosso favor.
Aos
45 do segundo tempo, em busca de um tema para o blog, eis que descubro via Facebook (precisava mesmo falar?) que hoje, 16 de outubro, é o Dia Mundial da Alimentação.
Como
já cantei anteriormente por aqui, esse é um dos assuntos que mais me interessam
em vida: comer. E como diria Ronnie Von (sou fã, confesso!) é o único prazer
que podemos ter três vezes ao dia. Adoro! (Os dois).
Uma
comidinha simples, bem feitinha, fresca e bem temperada, tem coisa melhor? Mas,
na nossa vida louca vida, por diversas vezes temos que apelar, por questão de
praticidade e tempo mesmo, pros enlatados e industrializados da vida, e levar
de brinde pro nosso organismo todos os males que seria desnecessário aqui
me aprofundar.
Mas existe
solução pra isso? Se sim, qual?
Difícil.
Ainda mais na nossa realidade, onde cada vez mais a população das grandes
cidades reside em apartamentos, ter cada um sua própria horta não seria uma
alternativa possível. Embora, como já postei aqui, acredito no poder das hortas
urbanas como uma possibilidade (não solução para todos os males, é claro!) de melhorias concretas para o desenvolvimento e saúde
e bem-estar de uma região.
Mas
de verdade, mais do que os industrializados, que acredito se houver desejo real
ainda conseguimos dar alguns jeitinhos (sem fazer milagres, obviamente, a não ser que quisermos irmos todos embora viver no campo, e olhe lá!), o que
mais me incomoda sobre esse assunto é nossa cultura já enraizada do paradoxo
abundância e desperdício de alimentos. E daqui me pautarei em fontes de alta
credibilidade e números. É necessário.
Segundo
uma pesquisa que realizei há um tempo atrás, o Brasil disputará nos
próximos dez anos a produção de alimentos com os Estados Unidos, consolidando-se
como uma potência agrícola ("Projeções do Agronegócio
2010/11-2020/2021", divulgado em 14 de junho de 2011 pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA). Além disso, de acordo com a FAO
(Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), nosso país
produz 25,7% a mais de alimentos do que nossa população necessita.
Por outro lado, segundo dados
apresentados pelo IBGE, de 2009, 11,2 milhões de pessoas sofrem da chamada
"insegurança alimentar grave" no país. Traduzindo: toda essa
quantidade de pessoas ficou sem comer pelo menos algum dos 90 dias anteriores à
realização da pesquisa. Não fizeram sequer uma das três refeições mínimas
diárias recomendadas.
Além
desse quadro paradoxal de abundância e carência, o Brasil é um país onde se
joga muita comida passível de ser consumida direto na lata do lixo, tanto as
partes chamadas "não-convencionais" dos alimentos - cascas, talos,
folhas e sementes - como aquele resto de comida que ficou na panela.
Uma
pesquisa da Universidade de Botucatu comparou as propriedades das partes
não-convencionais de diversos alimentos com as polpas delas. E comprovou que,
por exemplo, o abacaxi possui mais fibras na sua casca do que na própria polpa.
Já a beterraba possui mais ferro e potássio em sua folha do que na polpa. A
couve-flor possui quantidade significativamente maior de ferro na folha do que
na flor, e o brócolis no talo do que na flor.
E mencionou algumas possibilidades de preparo que, com um pouco de criatividade da nossa parte, daria pra se estender muito mais com certeza.
Pois
é. Esses são somente alguns pouquíssimos exemplos daquilo que na verdade já sabíamos: o quão desperdiçamos alimentos
que não só podíamos, como devíamos consumir. Por comodidade? Sim, acredito que sim.
Por não termos por cultura o
(bom) hábito de utilizar o alimento "por completo", muitas vezes nem
chegamos a ter acesso a ele in natura já no momento da compra.
Além de tudo isso, a questão não é só o desperdício em si, o que já seria um grande motivo para repensarmos nossos hábitos. Segundo dados da Pesquisa de Saneamento Básico 2008 -
divulgados pelo IBGE em agosto de 2010 - até o respectivo ano base do estudo,
metade da totalidade dos municípios brasileiros ainda utilizava lixões a céu
aberto para descarte de seus dejetos. Isso
significa dizer que parte desses alimentos descartados pela população e pelo
comércio ainda vai parar nesses locais sem as mínimas condições de saneamento,
poluindo o solo, água e ar, além das emissões descontroladas de gás metano,
grande causador do efeito estufa.
Em
todos esses casos, mais grave que o desperdício é a falta de conhecimento.
Em
tempos que se fala tanto sobre Sustentabilidade, uma das mudanças mais
significativas que poderíamos fazer está em nossa necessidade diária mais
básica: o comer.
Fome
e desperdício geram perdas. Perdas
não só em aspectos físicos e nutricionais, mas também em aspectos sociais e
culturais. O que afeta direta ou indiretamente a vida de todos, seja rico ou
pobre.
Uma
escola, um bairro, uma cidade, uma sociedade, assim como seu dia-a-dia,
valores, sua cultura e leis são feitas por gente. Pra gente.
Sendo
assim, é possível – e necessário – educação e mudança.
Pra
garantia da saúde e existência de todos.