Créditos da foto: Fernanda Romero

Créditos da foto: Fernanda Romero

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Comer, comer


E é o universo a nosso favor.

Aos 45 do segundo tempo, em busca de um tema para o blog, eis que descubro via Facebook (precisava mesmo falar?) que hoje, 16 de outubro, é o Dia Mundial da Alimentação.

Como já cantei anteriormente por aqui, esse é um dos assuntos que mais me interessam em vida: comer. E como diria Ronnie Von (sou fã, confesso!) é o único prazer que podemos ter três vezes ao dia. Adoro! (Os dois).

Uma comidinha simples, bem feitinha, fresca e bem temperada, tem coisa melhor? Mas, na nossa vida louca vida, por diversas vezes temos que apelar, por questão de praticidade e tempo mesmo, pros enlatados e industrializados da vida, e levar de brinde pro nosso organismo todos os males que seria desnecessário aqui me aprofundar.

Mas existe solução pra isso? Se sim, qual?

Difícil. Ainda mais na nossa realidade, onde cada vez mais a população das grandes cidades reside em apartamentos, ter cada um sua própria horta não seria uma alternativa possível. Embora, como já postei aqui, acredito no poder das hortas urbanas como uma possibilidade (não solução para todos os males, é claro!) de melhorias concretas para o desenvolvimento e saúde e bem-estar de uma região.

Mas de verdade, mais do que os industrializados, que acredito se houver desejo real ainda conseguimos dar alguns jeitinhos (sem fazer milagres, obviamente, a não ser que quisermos irmos todos embora viver no campo, e olhe lá!), o que mais me incomoda sobre esse assunto é nossa cultura já enraizada do paradoxo abundância e desperdício de alimentos. E daqui me pautarei em fontes de alta credibilidade e números. É necessário.

Segundo uma pesquisa que realizei há um tempo atrás, o Brasil disputará nos próximos dez anos a produção de alimentos com os Estados Unidos, consolidando-se como uma potência agrícola ("Projeções do Agronegócio 2010/11-2020/2021", divulgado em 14 de junho de 2011 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA). Além disso, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), nosso país produz 25,7% a mais de alimentos do que nossa população necessita.

Por outro lado, segundo dados apresentados pelo IBGE, de 2009, 11,2 milhões de pessoas sofrem da chamada "insegurança alimentar grave" no país. Traduzindo: toda essa quantidade de pessoas ficou sem comer pelo menos algum dos 90 dias anteriores à realização da pesquisa. Não fizeram sequer uma das três refeições mínimas diárias recomendadas.

Além desse quadro paradoxal de abundância e carência, o Brasil é um país onde se joga muita comida passível de ser consumida direto na lata do lixo, tanto as partes chamadas "não-convencionais" dos alimentos - cascas, talos, folhas e sementes - como aquele resto de comida que ficou na panela.

Uma pesquisa da Universidade de Botucatu comparou as propriedades das partes não-convencionais de diversos alimentos com as polpas delas. E comprovou que, por exemplo, o abacaxi possui mais fibras na sua casca do que na própria polpa. Já a beterraba possui mais ferro e potássio em sua folha do que na polpa. A couve-flor possui quantidade significativamente maior de ferro na folha do que na flor, e o brócolis no talo do que na flor. 
E mencionou algumas possibilidades de preparo que, com um pouco de criatividade da nossa parte, daria pra se estender muito mais com certeza.

Pois é. Esses são somente alguns pouquíssimos exemplos daquilo que na verdade já sabíamos: o quão desperdiçamos alimentos que não só podíamos, como devíamos consumir. Por comodidade? Sim, acredito que sim.

Por não termos por cultura o (bom) hábito de utilizar o alimento "por completo", muitas vezes nem chegamos a ter acesso a ele in natura já no momento da compra.

Além de tudo isso, a questão não é só o desperdício em si, o que já seria um grande motivo para repensarmos nossos hábitos. Segundo dados da Pesquisa de Saneamento Básico 2008 - divulgados pelo IBGE em agosto de 2010 - até o respectivo ano base do estudo, metade da totalidade dos municípios brasileiros ainda utilizava lixões a céu aberto para descarte de seus dejetos. Isso significa dizer que parte desses alimentos descartados pela população e pelo comércio ainda vai parar nesses locais sem as mínimas condições de saneamento, poluindo o solo, água e ar, além das emissões descontroladas de gás metano, grande causador do efeito estufa.

Em todos esses casos, mais grave que o desperdício é a falta de conhecimento.

Em tempos que se fala tanto sobre Sustentabilidade, uma das mudanças mais significativas que poderíamos fazer está em nossa necessidade diária mais básica: o comer.

Fome e desperdício geram perdas. Perdas não só em aspectos físicos e nutricionais, mas também em aspectos sociais e culturais. O que afeta direta ou indiretamente a vida de todos, seja rico ou pobre.

Uma escola, um bairro, uma cidade, uma sociedade, assim como seu dia-a-dia, valores, sua cultura e leis são feitas por gente. Pra gente. 
Sendo assim, é possível – e necessário – educação e mudança.

Pra garantia da saúde e existência de todos. 

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