Em tempos a quem alguém um dia nomeou de “revolução
digital”, pode até parecer de certa forma estranho que a comemoração desse dia tenha
sido bastante difundida nas redes sociais.
É. A quantidade de informação a que temos acesso
atualmente via Internet pode nos fazer pensar sobre qual o papel dos livros na nossa
atual sociedade. Afinal, conteúdo, para nós – conteúdo no mais simples
significado da palavra - não falta. Sobra. (vale lembrar aqui também que,
embora a conexão por Internet banda larga tenha se difundido em larga escala
nos últimos anos, muita gente ainda não tem acesso à ela).
Especialmente quando se trata de Educação, qual é
a relevância dos livros na formação dessa nova geração de crianças e
jovens, que já nasceram conectados e com acesso à diversos recursos tecnológicos? Diante da quantidade de informações a qual estamos expostos
diariamente, como esse público organiza, assimila tudo isso?
Podem parecer somente inquietações de educadores e
pedagogos, mas não é. Ou não deveria ser. Afinal, mais a fundo, estamos falando
em formação de sociedade, formação de seres humanos em todos os sentidos:
cultural, intelectual, social e emocional. Formação de vidas. Pra vida.
Livros de histórias, contos, lendas, fábulas são
importantíssimas para o desenvolvimento da inteligência do ser humano – o que
nós Pedagogos chamamos de cognição - e para o seu reconhecimento como ser
inserido num determinado contexto social e cultural.
Quem de nós
não se lembra das famosas histórias dos Irmãos Grimm, Chapeuzinho Vermelho, a
Bela Adormecida, Branca de Neve, ou das histórias em quadrinhos da Turma da
Mônica... podem parecer somente entretenimento, mas não são. Por meio delas, e
de tantas outras, pudemos adquirir conhecimentos sobre regras e valores para convivência
em sociedade, desenvolver gradualmente conceitos abstratos de situações
concretas - as chamadas “moral da história” - e de noções de símbolos.
A criança é um ser em fase de descoberta de quem é
si mesmo, de suas possibilidades e do mundo que o cerca. Por isso, é muito
importante até para os bebês o contato com o mundo letrado, com livros
destinados para a faixa etária deles. Livros de banho, de imagens e sons os
ajuda a desenvolver habilidades como coordenação visomotora (controle de olhos
e mãos), controle manual, percepção visual e auditiva e reconhecimento gradual
de cores e formas.
Mas o principal é que os pais leiam para os bebês:
poemas, histórias com músicas e muita repetição. Eles adoram! Além disso,
desenvolve-se gradualmente a percepção sensorial, a construção da inteligência, memória e linguagem.
Já com crianças maiores, ler histórias infantis e
infanto-juvenis pode auxiliá-los a compreenderem melhor o mundo em que vivem, a
formular hipóteses e pensar criticamente.
Mais do que simplesmente ler uma história para uma
criança, pais podem promover momentos de discussão sobre essas histórias,
pensando juntamente – e não para elas – sobre situações e atitudes dos
personagens, como agiriam no lugar deles, sem nunca inserir julgamentos e juízos
de valor dos adultos.
O intuito é desenvolver nas crianças seu próprio
senso crítico-reflexivo sobre as coisas que o cercam, sua capacidade de
comunicação e expressão verbal, sua autoconfiança para expor suas opiniões e, o
mais importante, refletir com elas sobre a relação ato e consequência de ações
e atitudes. Orientar é isso, não desenvolver
em crianças sentimento de medo e culpas por valores ditos morais sem
embasamento algum e correlação com a realidade.
As novas tecnologias são recursos que vieram para agregar ganhos para a humanidade. No entanto, muito mais importante do que a quantidade de informações que temos acesso nos dias de hoje, é o uso que fazemos delas em nossa vida. Pra nossa vida.
Digital ou papel: o que importa mesmo é o ser pensante do outro lado da tela. Ou da folha.