R$
7.000.000.000, ou 7 bilhões de reais por ano. Pra nós, cidadãos comuns,
independentemente de classe social, é uma grande quantia de dinheiro.
Pro governo,
é razoável, relativo. Que seria possível desenvolver projetos e amenizar ou
solucionar problemas sociais, sem dúvida, mas se é muito ou pouco depende do
tamanho, abrangência e complexidade da situação.
Sete bilhões
de reais por ano foi o valor estipulado pelo governo federal para a cultura do
Brasil em 2013. Dia 27 de dezembro de 2012, a Presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei que criou o Vale Cultura: um benefício de R$ 50,00 mensais para
que todo trabalhador brasileiro que ganhe até 5 salários mínimos em regime CLT
(ou R$ 3,39 mil, de acordo com reajuste salarial em janeiro de 2013) consuma em
atividades ou bens culturais: seja indo ao teatro, show, cinema, ou comprando
livros e DVD’s.
Estima-se
que, atualmente, aproximadamente 17 milhões de pessoas ganham até 5 salários no
país.
O termo
“Vale Cultura” não me soou bem. Pareceu-me algo como se tivessem dando à pobres,
agora, o direito de acesso ao lazer, como se este não fosse um direito de cada
um de nós, assim como educação, saúde e trabalho.
No entanto,
do ponto de onde estamos / estávamos, saber que o lazer do brasileiro foi
considerado como digno de projeto de lei e mais, digno de direcionamento de uma verba dessa de fim único e exclusivo para lazer, vista as peculiaridades do projeto, me parece um exemplo concreto de mudança e progresso, principalmente em termos de valores
sociais.
Cada
trabalhador nessas condições ter R$ 50,00 poder ir com sua família no cinema no
final de semana ou comprar um livro pro seu filho, sem peso na consciência de
estar utilizando essa quantidade de dinheiro com algo “supérfluo” enquanto há
outras necessidades básicas pra pagar, sim, é um avanço social. E isso não tem
preço.
Assim como
já cantou o Titãs certa vez, “a gente não quer só comida, a gente quer comida,
diversão e arte”, o ser humano precisa, como necessidade básica de
sobrevivência, de ilusão para viver, seja em qual característica e dose for.
Não fosse assim, novelas, música e Publicidade não teriam a influência que têm
em nosso cotidiano, por mais alternativo ao sistema que se deseje ser.
E como você investiria esse dinheiro? Mas afinal, o que é
cultura? Novela é cultura? Sertanejo universitário é cultura? Ou um concerto de
ópera que pode ser considerado como cultura?
Cultura é
aquilo que define uma sociedade em termos de ideias, conhecimentos e atitudes.
Segundo o dicionário “cultura” é, em termos gerais, seu conteúdo social. Em
termos biológicos e intelectuais, aplicação do espírito em algo, aquilo que, a
partir do movimento possível único e exclusivamente à subjetividade humana,
transforma algo natural em civilização, em desenvolvimento intelectual.
A partir
dessa definição, a ideia aqui não é, em hipótese alguma, dizer que isso ou
aquilo pode ou deve ser considerado cultura, ou não pode, ou não deve. Afinal,
se cultura é uma manifestação do espírito, independente de ser algo feito pra
ser vendável, foi feito por um ser humano. Logo, é cultura. Segundo: há coisas
que podem não ser consideradas de “gente culta”, mas simplesmente tocam. Ou
seja, cumpriu com sua missão. Teve, em alguma medida, graça, poesia e
encantamento.
Mas será que
esse valor não poderia ser melhor aplicado num projeto mais estratégico de
ações mais bem definidas e, consequentemente, de resultados passíveis de serem
melhor controlados? Afinal, dinheiro público é de interesse de todos saber como
está sendo aplicado, e os resultados concretos dos investimentos.
Será que
esse dinheiro não poderia ser investido em projetos dentro de escolas com
crianças de Educação Infantil e Ensino Fundamental, com temáticas envolvendo os
objetivos do milênio estipulados pela ONU, promovendo assim o conhecimento dessa
geração sobre eles e desenvolvendo seu senso crítico, reflexão e atitude sobre e
para o mundo em que vivem?
Fonte: amigosdomilenio.blogspot.com
Ou financiando projetos científicos e tecnológicos de jovens
do Ensino Médio da Educação Profissional que tragam melhorias efetivas para
a qualidade de vida de pessoas, seja de um bairro, uma cidade?
Com tantos trabalhos incríveis rolando Brasil afora, não seria mais
interessante proporcionar incentivos financeiros a grupos artísticos, que tanto
lutam por um lugar ao Sol nesse país, que em contrapartida levem sua arte criativa
para essa mesma população que receberia (receberá) o benefício, estimulando
assim a valorização da nossa cultura popular?
Ou com
incentivos a artistas de rua, artesãos, para que levem sua arte para outros lugares, gerando assim, além de inclusão social e econômica, o resgate
de identidades culturais e o respeito e valorização por parte de moradores de
outras regiões do país, que sequer teriam a oportunidade de conhecer tais
habilidades?
Ou mesmo com
incentivo a empresas, para que desenvolvam produtos e serviços culturais social
e ambientalmente responsáveis e promovam valores como ética, solidariedade,
autonomia e perseverança?
Ou
proporcionando meios tecnológicos para que populações de baixa renda produzam
seus próprios canais de comunicação (como estações de rádio ou webescolas),
gerando assim o fortalecimento de sua auto-estima enquanto grupo social?
São somente
ideias minhas, e não sei o quanto tudo isso custaria pra saber se são possíveis
ou não de serem colocadas em prática, mas ao investir em um Vale Cultura-Educação, num sistema que não seja de “um (governo) para um (pessoa)” e
sim de “um (governo) para muitos (projetos com pessoas)”, os resultados poderiam
ser melhor controlados, mais amplos. Mais positivos.
Pensar o
valor da cultura de uma nação para além de valores monetários, isso não tem preço.