Créditos da foto: Fernanda Romero

Créditos da foto: Fernanda Romero

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Zona de conflito, zona de conforto e um pouco mais do mesmo


Desde que iniciou o ano não leio jornal. Ler mesmo, com profundidade, não só ver as manchetes e “passar o olho” numa matéria ou outra que me interessou. 
Pra não dizer que não, li algumas colunas de opiniões. Mas só.
Ontem abri o jornal com o intuito de, ora, ler jornal. Ler de verdade. Mas desisti nos primeiros minutos.

Estafada, essa é a sensação.

Sempre tive dificuldade em lidar com o ócio. Minha mais latente e viva herança oriental, acredito. E um dos motivos que me fizeram buscar terapia, também. Mas já melhorei muito e venho melhorando a cada dia. E minhas últimas férias comprovaram que hoje sei simplesmente não fazer nada. Pra nada. Mas ainda preciso de outras provas.

Tudo pra mim tem que ter uma finalidade, nem que não esteja muito clara, a princípio. Caso contrário, é perda de tempo.

Até nos meus momentos de lazer. Descansar pra mim não é simplesmente ócio por ócio, há de ter um objetivo principal: descansar a mente e/ou o corpo. E muitas vezes, mesmo sem saber exatamente o que há de vir pela frente, o ócio tem pra mim um fim mais ou menos pré-determinado: uma resposta pra uma dúvida qualquer, uma ideia nova, um instante de criatividade, ou mesmo uma nova inquietação pra dar um novo rumo a minha história.

Rir com as amigas: relaxar. Passear num parque ou no shopping: ver paisagens ou coisas diferentes, sair um pouco do reduto do meu “mundo real”. Extravasar.

Talvez por essa minha dificuldade é que sinto cada vez mais dificuldade em ler jornais. Pra mim, hoje, ler um jornal não tem finalidade alguma.

A sensação é de sempre mais do mesmo. Pra nada no final. Uma sensação de "estafamento" (não sei se essa palavra não existe, vale ressaltar, mas nenhuma outra se encaixaria melhor) como cachorro correndo atrás do próprio rabo.

Todos os dias, com apenas mudanças de personagens e algumas alterações aqui e acolá, as notícias são praticamente sempre as mesmas. Por isso migrei pras mídias sociais. Pelo menos lá consigo filtrar um pouco mais o que é do meu interesse, mesmo por puro lazer. E o que não me leva a nada.

O sentimento que fica pra mim é: tá, mas pra quê tanto alarde, tanto espetáculo, tanto, tanto... se amanhã tudo isso é somente uma vaga lembrança, quando muito?

“Pra estar informado, saber das coisas que acontecem”, como diria minha vó, quando a questiono o porquê ela insiste em assistir todo “santo dia” noticiários de tragédias. E pra ela esse é um motivo muito válido. Respeito.

Mas esse tipo de resposta já não me convence mais. Informado pra quê? Mudará alguma coisa eu saber detalhes de crueldades e acontecimentos funestos, com características sempre mais ou menos determinadas?

Acredito mesmo que notícias cruéis - sejam elas de mortes com requintes de maldade (sem precisar ferir também o espectador do outro lado) ou de políticos corruptos que roubam a vida e dignidade não só de uma, mas de milhões de pessoas – poderiam, e podem, efetivamente ter um objetivo concreto, e que não é somente “estar informado”.

Uma pequeníssima parcela da população se indignar, levantar do sofá - ou abrir uma página na Internet - e começar a se movimentar já é um grande motivo. E pra, talvez, gerar alguma transformação com benefícios pra vida de todo restante. Grandes mudanças sociais sempre aconteceram assim.

Informação por informação não tem finalidade, penso eu. Informação, pra ser válida, há de gerar reflexão, conhecimento, mudança de postura, atitude.
Mas pra vida da grande massa (e nisso eu também me incluo, de certa forma), a sensação é de conformismo. A vida é assim mesmo, o que se há de fazer...
E venho aqui novamente falar um pouco mais do mesmo (vide meu último post): questão de valores culturais.   

A responsabilidade desse quadro não está somente dentro das redações dos jornais, nem a solução unicamente nas salas de aula.

A mudança está nelas sim, com uma alteração profunda de valores, princípios e procedimentos. Parte delas, mas também está no trajeto entre um espaço e outro. Está em mim, em você, em nós.

Iniciando nelas - e em mim, em você, em nós - vai pra rua, pra avenida, passa pelo café na padaria, no bate-papo com um conhecido de longa data, corre pro escritório, vai pro almoço num self-service com colegas de trabalho, vai pro supermercado numa conversa rápida com a operadora de caixa, segue numa conversa com a mãe de um amiguinho de escola do filho. Vai pra vida.

Como já aprendemos um dia lá atrás, alterando-se as bases, altera-se um objeto, um cenário. Alterando mentalidades, muda-se uma casa, uma rua, um caminho, um bairro, um país, uma história.

Será que os atuais princípios e meios vêm valendo os fins? 





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