Houve um tempo em que elas foram consideradas perda de
tempo, futilidade. Empresas e escolas se esforçavam pra proibir. E jovens,
principalmente, se esforçavam pra burlar essas imposições.
Foi uma revolução. Falando somente a partir da minha própria
vivência e memória, data de 2004, quase dez anos atrás.
Era um nome meio esquisito. Talvez por isso, a princípio,
era considerado coisa de mulecada jovem e nerd.
No auge, lembro-me que passou até no Jornal Nacional. E hoje
simplesmente caiu no esquecimento. Foi impiedosamente substituída por
outras, mais arrojadas. Ou orkutcídios em massa.
A proposta inicial do Orkut era pra ser um site de relacionamento
onde pessoas tivessem com quem compartilhar, através dessa rede, interesses em
comum, pessoais ou profissionais. Lá, pessoas que gostassem de Caetano ou É o
Tchan, tivessem gosto por ruivas ou questões profissionais pra compartilhar
poderiam se unir em “comunidades” e trocar ideias, expor dúvidas,
opiniões. Enfim, se relacionar com pessoas por meio do computador.
O que antes era possível somente através de meios de “um”
para “um”, por e-mails ou telefonemas, transformou-se numa comunicação de “um”
para “muitos”, e de “muitos” para “muitos”, ou multidirecional, formando uma
imensa “rede”.
Nessa brincadeira, empresas começaram a perceber o grande
potencial das redes para fazer publicidade, expandir seus negócios, chegar ao
consumidor. E o que antes era somente entretenimento ou de interesses profissionais adquiriu
status, realizando grandes transformações na dinâmica comunicacional da
sociedade.
A forma de produzir e consumir informação também mudou
radicalmente. O que antes era tarefa e poder dos meios de comunicação, único e
exclusivo, passou a ser possível ao cidadão comum.
Com a ampliação da oferta de
aparelhos celulares com câmeras e acesso à Internet ampliou também a
concorrência, gerando diminuição dos preços. E a partir daí qualquer pessoa com
um celular com câmera na mão poderia fazer um registro de um acontecimento e
publicá-lo na rede.
Esse novo momento da comunicação foi chamado por alguns
estudiosos da área de “era da mobilidade”, ou “era da conexão”.
No entanto, o que a primeira vista pode ser interpretado
como revolução social traz algumas consequências inegavelmente negativas.
Primeiramente, nesse contexto, é muito difícil distinguir uma informação de
credibilidade de um simples fragmento de um acontecimento mais amplo, uma
impressão.
Segundo: nessa era, a quantidade de informações que chega
até nós é tamanha que fica cada vez mais difícil compreendermos uma determinada
notícia dentro de um contexto maior, não meramente como um fato isolado. Mais
complicado ainda é transformarmos tudo isso em algum conhecimento válido pra nossa vida real, ou algo de útil pra nossa vida cotidiana, o
que também pode ser nomeado sabedoria.
Nesse mar de informações, estamos cada vez mais sendo levados pela correnteza. E morrendo na praia.
Se cada um de nós, cidadãos comuns, usarmos as redes de forma crítica e selecionarmos aquilo que é do interesse ou necessário pra nossa própria vida, já é um grande feito. No entanto, o potencial de uma sociedade conectada em rede é muito maior que isso, se soubermos utilizá-la bem.
Nesse sentido, muitos falam em transformação social por meio
das redes. E algumas iniciativas já estão comprovando que isso pode ser
possível na prática, mas mostrando também que não basta somente a ferramenta. O essencial são as ideias, o desejo de ação e transformação do ser
humano do outro lado da tela.
Uma das ideias das mais bacanas que surgiu nos últimos tempos
com a proposta de possibilitar ao cidadão fazer jus a esse título por meio da Internet foi o portal “Cidade Democrática” (www.cidadedemocratica.org.br).
Nele, nós, pessoas comuns, podemos participar cobrando prefeitos de promessas realizadas, propondo sugestões para melhoria de nossos bairros e cidades, divulgando problemas, trocando com outras pessoas que moram em
nossas proximidades (ou não), ajudar e ser ajudado no aperfeiçoamento de ideias,
apoiar e ser apoiado, gerando força. E gestores públicos podem utilizar a
plataforma para trocar com os moradores de suas localidades, conhecer suas
necessidades, anseios, atuando todos em sistema de colaboração em prol do bem
comum.
Tudo isso pode parecer – e ser mesmo – muito bonito e
bacana. No entanto, acredito que se não houver alguns elementos principais, que
orientam todo esse movimento, uma real transformação social por meio das redes
é impossível.
Instrumentos são simplesmente instrumentos. Só adquirem sentido a partir do ato humano. Da mesma forma, uma rede social só traz mudanças efetivas numa
sociedade se houver o desejo verdadeiro dos envolvidos.
E essa motivação que vem do íntimo só é possível, penso eu,
por dois caminhos: ou é da própria natureza do ser humano, daquele que nasce
com um justiceiro dentro de si, ou por identidade
cultural.
Pra uma plataforma como essa cair no gosto do povo e mostrar ao que veio, sentimentos de engajamento, empatia, patriotismo e pertencimento devem compor as bases dentre os valores de uma sociedade.
Pra uma plataforma como essa cair no gosto do povo e mostrar ao que veio, sentimentos de engajamento, empatia, patriotismo e pertencimento devem compor as bases dentre os valores de uma sociedade.
Estamos no caminho? A partir de iniciativas pontuais de
alguns engajados por aí - como o próprio Cidade Democrática - que se juntam e tomam força, acredito que sim. Mas a
transformação efetiva, generalizada e, portanto, consistente, só se dará a
partir da transformação de mentalidades, possível unicamente por três caminhos:
ensinamentos na escola, atitudes no trajeto e exemplos práticos em casa.
Fonte: facebook.com/cidadedemocratica
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